segunda-feira, 1 de junho de 2009

Uma, duas, três, quatro traições.

Foto: Cena do filme A Outra.


“Respirava lenta e regularmente como se estivesse nauseada. Não falava absolutamente nada.”

Ela tinha procurado-o. Queria conversar seriamente sobre aquela situação. Ele partira de sua casa rapidamente. Era como se tivesse ganho na loteria, e o dinheiro fosse abortar no banco. Não conseguiu, se quer, beijá-la como antes. Apenas abraçou-a e deu um simples beijo na testa.
Seguiu Ricardo. Ela conseguiu caminhar até o carro, e segui-lo nas ruas da cidade. Ele foi direto para o apartamento. Tomou um banho...

- Minha nossa! Já são 23h. – Ela falou sozinha dentro do carro.

Ele saiu. Foi em direção a uma boate na zona sul. Ela também foi. Seria bom dançar um pouco os últimos sucessos da pista de dança. Ela o observava de longe. A outra chegou. Nós chegamos. Clara sabia que existia outra tomando o seu namorado. Seduzia-o como nunca. Dançavam super agarrados. Até então, era apenas dança, dança, dança...

Clara reconheceu outros amigos deles lá. Foi quando ela se aproximou. Viu o esperado: Ricardo deliciava-se com a outra. Aproximou-se ainda mais. Olhou-os seriamente. Todos se voltaram para ela, inclusive eu.

O meu coração acelerou. Procurei um canto onde pudesse enterrar a minha cara. Onde pudesse enterrar as minhas mentiras e falta de amizade. Sei que errei. Aliás, todos nós do “grupinho”, erraram. Fui a escolhida.

- Você, Roberta? – Clara falava sem derramar uma lágrima. Apenas séria. Com o olhar direto.
- Eu, Clara. Perdão, amiga.
Todos pararam de dançar e quiseram tocá-la, pedir desculpas. O Ricardo saiu imediatamente. Os meninos foram atrás dele. Eu e as meninas tentamos segurar a Clara para esclarecer as coisas.
Ela falou calmamente:
- Não quero explicações de vocês. Não quero acusá-las de nada. Não quero que percam o tempo falando os motivos. Ops! Se é que tem motivos para terem feito isso comigo. Continuem dançando. Estão belas!

Saiu segurando sua carteira vermelha, que naquele momento, expressava o ódio latente dentro dela.

Procurei no dia seguinte. Parecia que não iria me atender, mas, incrivelmente, atendeu.
Dona Ana, a mãe, disse-me ao entrar:
- Que papelão, hem Roberta?
Não me reconheci, confesso. Fiquei de queixo caído. Apertei minhas mãos e entrei na casa. Clara estava na cama, lendo um livro. Ela me olhou firme com sua boca fechada e os olhos presos aos meus. Não derramou lágrimas. Não me gritou.

Apenas me ouviu.

- Em primeiro lugar, desculpe-me pelo que aconteceu. Sinto-me tão mal. Perdi o restante... Ou melhor, perdi a confiança que você tinha em mim. Não vou dar explicações pelo Ricardo. Não vou pedir desculpas por ele. Cada um fala por si. Cada um sabe das suas falhas e cada um deve ter o grão de “amizade” e conversar com você pessoalmente. Soube desde um mês atrás que ele estava se encontrando com a Helena. Trocando mensagens via celular, Orkut, MSN. As meninas me contaram tudo. Eu preferi o silêncio diante de você. Mas foi muito pior do que abrir logo o joguinho que o seu namorado estava fazendo. Juro como não imaginava encontrá-la ontem na boate. Eu sabia, sim, que ele iria para lá encontrar a Hel. Eu sabia que eles tinham ido no fim de semana passado para uma pousada numa praia do sul. E você me ligou desabafando e eu me fazendo de inocente e de puta de raiva com ele. Eu sabia que na próxima semana ele iria, realmente, pôr um fim na relação. Engraçado, você deve achar. Eu sabendo disso primeiro que você. Todos sabendo disso primeiro que você. Sabia dos dois presentes que ele tinha dado para ela: um livro, O Mundo de Sofia, que tantas vezes você havia comentado falado para ele que queria-o de presente. E uma girafinha de pelúcia que você já havia comentado COMIGO.

Eu sei que foi uma poli traição. A pior foi a minha. Entenderei – peguei nas mãos dela – se você não quiser mais olhar para a minha cara. Se preferir me ignorar na faculdade. Ou, se é que há esperança para mim, darmos um tempo nisso tudo. Mas agora, na minha próxima confissão, não deveremos mesmo mais prosseguir. – Ela não mexia – Ele a engravidou, Clara. – Ela apertou minhas mãos e fechou os olhos. – Ela está grávida de 2 meses e meio. – Apertou mais ainda minhas mãos. – Deve pôr um ponto final nessa história. Ah, quem sou eu para falar isso, né? Eu falo em toda a história. Não apenas na de vocês dois, mas na nossa. Então é isso. Acho que nada para dizer...

Ela não disse nada. Sai. Hoje faz 9 meses e 15 dias que não trocamos um oi. Estou mal. Absurdamente mal. Não consigo suportar essa perda. Essa minha falha. Éramos tão ligadas.
Estou só. Absurdamente só.

5 comentários:

Vanessa Cristina disse...

Acabo de escrever um conto sobre traição e venho aqui ler-te. O que encontro? Traição! Muito me parece que tal sentimento tem vagado por aí.

Ah, agradeço tamanha gentileza que despejas em meu mundinho; fico feliz que gostes de me ler e que tenhas encontrado identificação em Lú. Eu tenho muito dela. Certas vezes, sou mais Lú que Vanessa. E também tenho que dizer que prefiro meu layout escuro, me sinto melhor no preto.

Sim, sobre seu texto... Traição múltipla, doeu em mim. Gosto de te ler :)

Beijo
:*

Unknown disse...

A dor inspira, nos leva a rever tanta coisa e nos faz crescer.
Continue escrevendo... Até evaporar!
Abração

Paloma Flores disse...

Hum... A gente faz as escolhas na vida e depois tem que lidar com as consequências, né?
Quem nunca errou?
Acontece... Temos que erguer a cabeça e ir em frente, não tem jeito.
Sinto que tenha perdido sua amiga.
É o que eu diria a alguém assim...

Vim por aqui do blog da vanessaromão. Gostei muito.

Paloma Flores disse...

Sim sim, eu entendi que era fictício. Por isso que disse ' é o que eu diria a alguém assim'.
=)

DBorges disse...

Não é ruim estar absurdamente só.
Adorei o "absurdamente" por isso repeti por duas vezes. (rs)

E sim, foi ótima a leitura.
Apesar da cor preta do blog não me ajudar muito. Quis ler esse tal que comenta algusn blogs que visito e sempre tão cheio de palavras.
(seus comentários são bem longos)

Talvez a curiosidade tenha vindo prq eu tbm não sei a hora d e parar quando escrevo.

Voltando ao seu blog.. Amei!
Principalmente essa postagem recente.
Menino, eu assisti esse filme. Quer dizer, assisti a metade, algumas partes. Morri de ódio prq não consegui assistir todo.

Volto aqui depois. Beijo grande!