terça-feira, 31 de março de 2009

Carta para um amigo [ III ]. - Isso é uma ilusão, e eu não ligo.

Photo: Redródomo de um lugar encantado (By Nobre Epígono)
Praia da Caiana, 31 de março de 2009
Leo! Estou de volta.
Como estão as coisas por ai? As aulas de História? Sabe, sinto falta das aulas particulares sobre Idade Média que você me deu no último ano. Eu insistia em dizer que não entendia o feudalismo, a transição do período clássico para a Idade Média, a estrutura política e tantos outros assuntos e temas. Você, insistia em me ensinar. E os lanchinhos no fim da tarde preparados por ninguém mais que Dona “Looourdes”?!
Bem, esse meu tempo afastado desses quesitos tem-se tornado tão mais estranhos. Acho que a cada dia o sentimento “não adianta querer voltar”, faz-me refletir se seria bom mesmo voltar para todos vocês três. Mas eu o respondo: Sim, Leo! Seria muito bom. Nunca quis tanto voltar para a nossa cidade. Mas que tal continuar por aqui? Não que eu deixe o tempo me levar. Afinal, como um amigo nosso disse uma vez: “O tempo não para (segundo as novas normas gramaticais, o acento some)”. Mais que certo, né?
Vovô foi até a cidade grande na última sexta, e voltou ontem trazendo um livro para mim. Vários poemas do Machado de Assis que foram lançados no ano passado. De quem eu lembrei? A-ham! Dela. Ela que sempre quando me abraça, o mundo gira devagar. Vocês têm se encontrado no colégio? Se sim, mande lembranças. Ah, e que não vejo a hora de dar um abraço como o da última vez. Ela sabe porque. E você também.
Eu consegui controlar a minha saudade quando vi uma foto aqui. Foi um dia após termos ido a um barzinho. Era começo de uma manhã ensolarada, e logo você, Leo, fotografou o meu abraço de bom dia com ela. Lembro-me de quando entrei no carro e as lágrimas vieram em peso. Prendi-as. A tarde, escrevi para ela que tinha adorado aquele momento de glória. Disse também que a saudade apertou ainda mais trazendo um pouco de choro. Não que eu quisesse surpreendê-la com minha citação “do choro”. É como Machado escreveu: “Lágrimas não são argumentos”. Não as uso para tal. Sim, não as uso. Uso-as para libertar o nó latejante e sufocante que amedronta o meu pescoço. Você mesmo já chorou por um motivo sério e entende perfeitamente do que estou a falar.
E aqui, deitado na rede com uma resma de papel no colo, penso em escrever mais e mais. Porque é incansável o ato de escrever. Porque é incansável dizer que ama. Porque é mentira dizer que não ama mais. Ama-se de todas as formas. E quando o assunto é sexo, também faz-se sexo de todas as formas. Ou não se faz. Mas AMA-SE! RESPEITA-SE! Assis escreveu: “Cada qual sabe amar a seu modo; o modo pouco importa; o essencial é que saiba amar”. Eu sei amar. Eu sei que ela sabe amar. Eu sei que nós sabemos. Sim, nós quatro.
Um abraço, meu caro.
PS: estou pegando no sono... Volto a escrever-te!

sexta-feira, 27 de março de 2009

Carta para um amigo [ II ] - Nem tudo é verdade.

Photo: Praia da Caiana (By Nobre Epígono)

Praia da Caiana, 17 de março de 2009

Ao meu eterno e grande amigo Leonardo.

Já são 18h30, Leo. Estou em casa. Foi muito bom lá na beira da praia. Consegui pintar um desenho que fiz. Imaginei uma caravela na minha frente. Tinha muita gente, inclusive, um casal bem trajado. Ela segurava seu vestido verde e sorria como nunca. Parecia que estava, em fim, no paraíso. Ele sorria também e pusera as mãos na cintura. Botes esperavam-nos ao redor da caravela. O sol brilhava. As ondas cantavam. As ondas... Ah, as ondas!

Pus o desenho aqui em cima da mesa. O gato, José Rabento, olha-o como se entendesse de arte. Arte é para poucos. [não querendo me desfazer da inteligência dos felinos] José me faz lembrar de Juliana. Sabes de quem estou a falar, não é mesmo? José participa das minhas horas de “vôo”. Ele vem e deita como um largado em cima da minha barriga. Confesso que as risadas surgem sem parar. Juliana uma vez deitou-se em meus braços e fez o mesmo que Rabento, lembra? Eu te contei?

Acabei de comer um pão com queijo e tomei um copo com leite. O meu avô está ali sentado na sua cadeira de balanço à espera de Dona Maria, por certo. Ele esquece do mundo, assim como o neto também esquece do mundo quando lembra dos quatro. Ele me questionou sobre o desenho. E claro, eu fantasiei as palavras e disse: “É a minha corte, vovô. Chegou para me levar para outro paraíso... Conhecer outras pessoas. Viver outras aventuras”. Não podia ficar sem a resposta dele: “Oh, meu neto! Como és belo nas tuas coisas”.

Acho que o meu avô foi a única pessoa com quem me descontrai mais nesses últimos dias. Ele diz que me ama. Ele conta-me histórias. Ele empresta-me os discos dele. Desde o término “dos quatro”, vovô Sebastião tenta aliviar a minha dor. Tenta me fazer feliz novamente. E eu, chato como sou, pareço não querer abrir os olhos e esquecer do único passado que me deixou tão feliz nesses tempos. Nada como um gole de vinho. Nada como O TEMPO.

Há o mistério de saber se existe outra pessoa que possa estar fazendo vocês três felizes, Leo. Há um ciúme bobo dentro de mim, que faz relembrar mais e mais do rosto e gestos de vocês. Que faz eu olhar para um lençol e sentir os dias em que me cobriram. Olhar para um bicho de pelúcia e sorrir dos apelidos que criamos um para com o outro. É tão triste. É tão bom. É um paradoxo. Sinto-me só neste momento. Apenas ouço de longe o barulho das águas nas falésias.

A primeira resma de papel está acabando. Já escrevi, reescrevi, rasguei, escrevi de novo, colori.

São 23h45. Está tarde. Preciso dormir. Amanhã continuo.

Um abraço forte.
Do seu amigo que tanto o estima,

Nobre Epígono.

terça-feira, 17 de março de 2009

Carta para um amigo [ I ]

foto: Praia da Caiana/RN (by Nobre Epígono)

Praia da Caiana, 17 de março de 2009
Olá, meu amigo Leonardo.
Trouxe todos os meus lápis coloridos, junto com uma resma de papel reciclado, e várias canetas para descrever tamanho estado emocional em que me encontro. Porém, acho que até mesmo 500 folhas não serão suficientes para o tal ato poético e inimaginável. Seria necessário eu escrever uma trilogia ou, quem sabe, uma tetralogia. A confusão resumi-se em CONFUSÃO. Pode acreditar.
De nada adianta eu armar uma rede na varanda na casa do meu avô. Não adianta eu pôr a vitrola dele ao meu lado e ouvir aquele vinil do Bob Dylan, ou ligar o meu minisystem e pôr um cd do Kings Of Leon, ou Caetano Veloso. Os pensamentos, as lembranças maravilhosas tornam-se sufocantes. As lágrimas vêm no rosto. Descem a procura do recanto, da paz de espírito. Mas que paz é essa que antes sufoca minha alma?
Como se já não bastasse, eu tenho o retrato de nós quatro dentro da minha gaveta. Deixo-o lá porque não quero sentir tristeza ao olhar. Mesmo sabendo dos momentos bons que passamos, não quero lembrar da minha culpa. Prefiro ouvir músicas. O retrato marca ainda mais o rosto de nós quatro. As músicas apenas me tiram de órbita.
Eu estou na beira da praia. Agora peguei um graveto e desenhei algo estranho na areia. Acho que são crianças correndo atrás de uma bola. Passei os pés em cima delas. Pus os braços cruzados nos joelhos e baixei a cabeça. Leo, estou chorando. Juro como não queria que esta carta fosse triste. Juro como queria estar feliz. Levantei a cabeça. Ei! Vou gritar... Está vindo... Eu preciso gritar... Ahh... Prec... Ahh... Precis... Ahhhhhhhhhhhhh! Gritei, Leo. Ainda me sinto preso. Ainda estou a querer a companhia de dois anos. Você sabe bem, não é?
Faz um frio aqui. Ao mesmo tempo um calor. Paradoxo. A praia está tão diferente. Vejo que ela sorri para mim. Lembrei de um fim de semana que viemos os quatro. Enquanto aquelas duas ficavam na areia conversando sobre arte e espaço, nós dois pegamos nossas pranchas e “caímos na água”! Que dias, não?! Sim. Claro que eu lembro da cara delas nos olhando e com inveja das ondas que pegávamos.
Como está sua mãe? Sua avó?
Como eu estou? Ah, estou ainda pra baixo. Não sei o que fazer. Sinceramente, ocupo o meu tempo com livros também. Até mesmo eles, os livros, têm me deixado triste. Sim, sim. Leio uma história sobre a infanta da Espanha que tornar-se-ia rainha da Inglaterra. Ela se chama Catarina de Aragão, a princesa leal. O romance com o filho do rei está transformando esse seu amigo num bobo.
Espera. Vou pegar um papel...

domingo, 8 de março de 2009

... just passing the time.

foto: Zumbi beach (by Nobre Epígono)


"Falando absurdos
Virando a noite

Perdendo senso
Derretendo satélites
Falando tudo
Voando a noite
Ouvindo estrelas
Derretendo satélites" - Paula Toller