domingo, 13 de julho de 2008

Carta de uma Puta [ I ]

Foto: Google

Postrocópolis, 13 de Julho de 2001

Puta! É o que sou. Eu vivo em muitos bares e boates dessa cidade. Procuro homens que me completem e saibam realmente fazer o trabalho certo. Sim, eu também tenho uma família. Moro com minha mãe, coitada, de 65 anos, e com meu pai de 72. Eles me reprovaram quando souberam do que eu faço na sexta e no sábado. Eu tenho também um filho de 2 aninhos que é uma graça! Um relacionamento quente, com um desses gringos que vêm aqui procurar “mulatas”, e encontram logo uma rapariga feito eu.

Resolvi escrever isso aqui para dizer um pouco de como é minha vida, e deixar mais um registro de minha existência. Meu nome é Paulla Martiniano de Medeiros e Silva, tenho 28 anos, sou formada em Filosofia, trabalho pela manhã e tarde no Centro de Ensino Sobre a Vida para crianças de 8 a 10 anos. Minha frase filosófica é: “Tanto o bem quanto o mal são necessários ao todo”. Algumas pessoas sabem do meu trabalho também como puta. No começo fui super criticada, e algumas mães não queriam que seus filhos interagissem com uma mulher “demoníaca”, era como elas diziam.

O Felipe, meu filho, todas as tardes vai comigo para o CESV. Ele adora as dinâmicas que faço com as outras crianças. Agora ele está ali na caminha dormindo. O pai dele, Jorgen, um norueguês de 42 anos, sempre manda a grana para eu manter o Lipe, e também a uso para mim. Desde que conheci o Jorgen, ele me ajuda em tudo. O carro que tenho hoje foi graças a ele, o apartamento que comprei para os meus pais, foi com a ajuda do Jorgen. Nós não somos casados, nem namorados. Nos dias de hoje estamos classificados como “ficantes”.

Pensei muito nos últimos dias sobre a minha vida como puta. Eu gosto do prazer sexual, de sentir o corpo de cada um no meu, de beijar quase todas as partes dos homens mais atraentes, limpos e educados. Sim, nesse mundo de prostituição, de raparigagem e putaria, existem pessoas! É difícil ao mesmo tempo agüentar quatro transas por noite. Quatro na sexta e quatro no sábado. Os homens são animalescos. Mas o jeito como eles me pegam é interessante, é excitante. Eu gosto daquele calor, quando estamos no motel. Gosto de sentir a pele grossa envolvendo o meu corpo rodado. Eu gosto de sentir as lambidas que muitos dão em minhas curvas, em meus seios grossos, para ser mais exata, no bico dos meus seios! Eu sou uma vadia. Quero parar com tudo isso. Está me cansando, na verdade.

Eu poderia apenas me divertir em algumas noites, ficar com outras pessoas, e parar de fazer programa. Eu posso continuar com esse meu jeito escandaloso, vulgar e nojento. Posso continuar trabalhando como filósofa com aquelas crianças. Posso continuar transando e lambendo o pau daquele norueguês que sustenta meu filho e eu! Não deveria ligar para o que você pensa, para o que você diz, para o que meus pensamentos também me condenam. Mas resolvi mudar pelo meu filho. Apenas por ele.

Sim, eu sou puta mesmo. Eu sou uma rapariga de beira de esquina, seus nojentos! Eu sou a mulher decadente, a mulher que fica com vários, a mulher fácil. Sou também uma mãe descontrolada, controlada, filósofa.

Você já prestou atenção em quem está ao seu redor?

Até mais.

Um comentário:

Aline Romero disse...

É.... A verdade é que todo mundo julga todo mundo. Ninguem faz questão de se importar com os sentimentos (os puros ou os profanos) de uma prostituta. Ninguem se importa, e essa é a parte mais triste. Falta humanidade para com essas "mulheres objeto".
Enfim...Belo texto!
Senti falta do senobre talento com as palavras! Que bom que voltou!
Um abraço!