segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Amor Retilíneo



Duas almas. Dois corpos. Duas criaturas que trabalham com pensamentos diferentes. Às vezes é um amor como as criptógamas. Em traços bem desenhados, jogando desejos e palavras na cara, é como eles fazem. Dão exemplo de uso carnal. Declararam tantas cartas um para o outro, que em meio a todo este arroubo, já não nos servem mais.

Brigaram inúmeras vezes. Ofereceram-se mais inúmeras vezes. Libertaram o gozo dos artistas austríacos em noites de luas repletas de ilusões.

- Nossos planos falharam...
- Tinha de ser assim. Está escrito.
- Quando não estava junto a ti, senti frios de perca de sentimentos. Não sabia o que você estava pensando. Não sabia o que de fato sentia por mim. Apenas maneava-me na cama macia.

Eles passaram por tantas coisas juntos. Contaram estrelas. Viram os fogos no céu estrelado. Beijaram-se em momentos felizes, abraçaram-se em momentos tristes.

A troca de olhares chamou-me a atenção no dia em que os conheci. Ele caracterizava-se pário. Ela roubava a cena, e o enchia de carícias e elogios bobos. Os dois sentiam a transformação de substâncias corporais em outras substâncias.

Antes de viverem no mesmo teto, a mulher de sorrisos fantásticos, guardava um retrato dele na gaveta de sua cômoda. Depois do casório, centenas de porta retratos dispersavam-se pela casa de dois andares.

Viajaram para outras cidades, praias, casas, amigos, palavras, músicas. Criaram uma diversidade de gostos. Leram poesias, obras literárias. Caminharam por mundos sem realidade. De mãos dadas, conheceram uma floresta onde moravam bruxas, fadas, anões, feiticeiros, Branca de Neve, Alice, Sofia, Verönika, Jan, Georg, criaturas animáveis. Ela cansou no caminho desse tudo. Beliscou o homem nos momentos de ciúmes, Mas o amor? Ah, o amor... Ele é rizomatoso. Tudo se tornou um idílio. O homenzarrão continuou a amar a mulher fantástica. Um dia tudo deve acabar...

Não tinham filhos. Não tinham mais desejos ardentes. Não transavam mais como antes. Não davam mais o beijo vampiresco. Não lambiam mais a pele com a mesma feracidade. Não olhavam mais com o mesmo toque de olhar um para o outro. O trecho amoroso tornou-se um sentimento com apenas uma única luz: a amizade.
Foto: Nobre Epígono

11 comentários:

Critical Watcher disse...

"Os dois sentiam a transformação de substâncias corporais em outras substâncias."

Que texto fantástico... O mais legal de se ler é a verdade que está exposta tão claramente aos nossos olhos. As coisas literalmente funcionam assim: mar-de-rosas, paixão, fogo, amor, felicidades, alegrias, dúvidas, medos, frio e fim.

Exatamente nessa ordem...

Como diria o grande escritor romano Marco Túlio Cícero, "dos amores humanos, o menos egoísta, o mais puro e desinteressado é o amor da amizade."

Parabéns pelo texto.
Abraço!

Anônimo disse...

exatamente o que eu te disse, o texto eh tao verdadeiro, principalmente o final...eh um tanto desanimador que termine assim, mas parece ser a ordem natural das coisas :)

ótimo texto.
abração meu distante amigo!

Anônimo disse...

Será que todo trecho de amor está fadado a isso? As fotos vão desbotando, a cama esfria, a televisão torna-se mais interessante que a outra pessoa...
Será que não é possível viver a ardência da paixão e a tranquilidade do amor?

(essas dúvidas não me saem da cabeça...)

Beijos.
(Ah! Obrigada pela visita! Apareça sempre...)

Anônimo disse...

Meus olhos encheram-se de lágrimas ao ler esse texto brilhante!

Caramba,grandão,se superou,hein?
Conseguiu tocar a minha alma.
;)
Parabéns.

Beijo de grandiosidade equiparada à pessoa que és.
[SMACK!]

c disse...

Caramba!!!!
menino, vc escreve muito bem, se meus comentários tivessem som, seriam aplausos!!!

beijos

Anônimo disse...

tem vezes que é melhor guardar a amizade que perder todos os outros sentimentos.

stay fine!

Anônimo disse...

O texto está ótimo e o tema é maravilhoso, amor é tudo seja entre familiares, amigos ou companheiro(a)!

@candido_dan disse...

Como já disse...ótimo texto!

...impossível de se entender essas coisas...pelo menos há uma coisa boa nisso tudo, a amizade...ela sobrevive a qualquer "infelicidade".

Hasta!

Renato Ziggy disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Renato Ziggy disse...

Seu texto me lembra um pouco a geração dos nossos avós e até mesmo dos nossos pais. Muitos se casaram novos, viveram coisas intensas, mas os anos fizeram tudo aquilo que antes era amor se transformar em prática constante de cumplicidade. Isso é lindo e necessário também, mas desde que o casal se ame. Sexo, viagens, saídas à noite, muito gás, um buquê de flores, posições sexuais diferentes etc são apenas formas certamente criativas de se canalizar e/ou apimentar esse amor.

Contudo, a rotina e o "envelhecer" fazem parte, só não podem comprometer o frescor do amor entre o casal. A realidade muda.

Gostei do texto. Bravo!

Débora Cunha disse...

q legal, cumpadji, tua habilidade de ser profundo sem ser... cafona, neh?
uahuha
bju