quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Segunda carta à morte

Vivência, 24 de Outubro de 1949

Bom tempo, dona morte. Depois de duas semanas ao ter escrito minha primeira carta à sua existência, um tanto enigmática, volto a refletir sobre você e outras coisas que me aconteceram. Dias esquisitos, diga-se de passagem, e bem infernais.

Não tenho mais o meu amigo Rubens por perto para dividirmos “conhecimento”. Você levou mesmo ele para longe dos meus braços, não é, sua feia?! Você me deve explicações!

Eu não gosto de você, sua malvada! Eu sinto nojo da sua existência em nossas vidas! Eu sei que chegará o dia em que irei passar por isso, mas não seria melhor eu ficar sem saber? Ficar sem ouvir ou ter você dizer: “chegará o dia em que você também passará por isso, menina inteligente”? Apenas quero saber porque tu existes. Saber o porque de suas ações. Que merda!

Eu faço mal a você com minhas perguntinhas. Tenho certeza disso. Melhor eu esquecer? Melhor eu não mais te ver? Não chorar mais por você?

Domingo passado sai para caminhar com o Otávio, Aninha e a Maria Clara no rio onde brincamos a última vez com o Pedrinho. Senti um frio tão intenso, que por uns minutos podia estar na Noruega, Groenlândia, Alaska! Sabia que ele estava ali comigo... E isso me fez lembrar de quando saímos para colher acerolas em um sítio do tio dele perto do mesmo rio. Posso confessar: nosso primeiro beijo foi dado dentro do pé de acerola! Hahaha... Foi tão lindo, tão perfeito... Tinha gosto, lógico, de acerola. Loucura! Gostosura! Pareço ser atrevida, não é? Mas não sou, ow!

Agora percebo que estou tratando você como uma amiga. Isso mesmo. Amiga CONFIDENCIAL. Nem a Aninha e a Maria Clara sabem disso. Bem, elas desconfiavam. E ainda desconfiam. Mas eu não ligo. Só não me sinto a vontade para falar isso.

Então, queria receber respostas tuas... Senão vou acabar pirando. [ fazendo cara de menina triste ]

*ah, sobre a epidemia que você relatou para mim na sua primeira carta, sinto muito. Tenho dó dos londrinos daquela época.

Com fidelidade,

Guilhermina – uma menina bastante complicada

4 comentários:

@candido_dan disse...

Pelo menos dessa vez, sem chacina londrina né?... :P

Mas bom de ler mesmo..."congratulations!"

abraço!

Urso Polar disse...

Iha!!!
o Chico escreve musicas se passando por menina...
e vc tuas cartas...
hahahahaha...

coitada da POBRE Londres!!!

=P

abraços!

Anônimo disse...

Genial, como sempre.

Acho que já fiz esse comentário mais de uma vez. Hahahahaha.

Beijos, meu caro!

Anônimo disse...

eu já tinha lido o texto, faz alguns dias e não sabia o que comentar, deve ser os meus momentos...

enfim, muito bom ;P