quinta-feira, 30 de abril de 2009

Uma dose de carta. Destinatário: desconhecido.

Foto: Noite de Vinhos e Desejos/Sampa Dez 2008 (By Nobre Epígono)

Parachutesópolis, 30 de abril de 2009

Se eu pudesse gritar para você, eu gritaria. Seria capaz de perder a voz para poder dizer as milhares de coisas que quereria de você. Mas não. Eu não preciso chegar até o chão para realizar os meus míseros desejos. Alguns deles, passam num estalar de dedo. Eu não deveria ir até a sua casa e esperar os seus pais saírem para poder dar em cima de você. Eu não deveria avançar tanto o sinal. Eu deveria ficar onde estou.

Repenso: eu deveria ousar.

A hora é exatamente propícia para tal ato. Derramaria um ótimo vinho no seu corpo. Lamberia-o com toda vontade. Ficaria bêbado de paixão por você. Um toque na pele, os dedos passando no seu corpo, o brilho dos seus olhos demonstrando felicidade e ao mesmo tempo tesão. Eu sei que há tesão quando você me olha. Eu sei que o meu cheiro é capaz de enlouquecer todos que passam na rua, ou todos que estão em um bar, boate, cinema. Eu sei que você sente o coração acelerar toda vez em que eu te olho daquele jeito. Você sabe o que fazer, para onde olhar. Só quer continuar olhando para mim também. Não tenha dúvidas, a recíproca é a mesma. Nós nos fazemos sentir-se tão bem.

Eu só deveria, e digo com todas as letras: EU SÓ DEVERIA ousar tocar você com mais ferocidade. Levar os nossos corpos a um êxtase indecifrável. Puxá-la para a cama e tirar toda a sua roupa lentamente, e lamber seus lábios, orelhas, queixo, pescoço, peitos, barriga, cintura, ... pernas! Eu só deveria te conquistar com todas as minhas rosas. Deveria escrever todas as minhas cartas exclusivamente para você.

Porém, preciso ser verdadeiro. Isso não vale nada. Você não me tem. Eu não te tenho. Prefiro não ter. Pelo menos neste momento, prefiro sonhar. Sonhar pode ser tão real quanto a própria realidade. A gente pode acabar com tudo em um instante, e fazer tudo valer a pena de novo sem discórdias. É o processo mais convincente à minha pessoa. Você entendeu?

Isso não vale nada. A carta não deveria ser direcionada a você. É tudo mentira, acredite. E de repente, não sinto mais esse desejo tão forte. Você não existe. Nunca existiu. Deverá existir? Não vou dizer que estou a esperar. A mentira viria a tona novamente.

E apenas escrevi para alguém. Alguém que não sei quem. E não querem me contar. Eu não quero contar para mim. Fazem questão de esconder as verdades. Minha mãe? Ah, minha mãe insiste em dizer que eu deveria ir para a Irlanda estudar inglês. O meu pai? Ah, o meu pai queria que eu a pedisse logo em casamento ou fizesse um filho com alguma puta pelo visto. Mas que sem noção! Ele não sabe o que quero. Minha mãe não sabe o que quero. Até errou o nome do país. Quero você nesse instante. Sinto que tudo irá mudar. Está bem, está bem. Não existe.

Só um momento. Vou ligar a vitrola. Estou pondo The Dark Side Of The Moon.

Eu só desejo, de corpo excitado e pensamentos ousados, que na próxima carta eu escreva pensando realmente em você.

Com carinho,

Nobre Epígono.

8 comentários:

Vicente Freitas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vicente Freitas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Critical Watcher disse...

Nossa, Nobre Epígono!
Quanta ousadia nas palavras! Magnífico...

Você realmente consegue fazer as coisas sonhadas tornaram-se tão prazerosas quanto as realmente vividas.

Estonteante!

Vicente Freitas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
A menininha disse...

Uau, maravilha de texto!


tem um selo pra vc!

beijos

Unknown disse...

Forte e ousado. Isso já parece com vc!
Parabéns

Eduardo Magalhães disse...

Pois é!!! Quem disse que a carta era pra você??? auhhuahua
Gostei muito dessa parte!
Saudações caro nobre.

Carolzinha disse...

Pois é, concordo com o Eduardo Magalhães. Essa parte é óóótima!
Texto perfeito!
Você está cada vez melhor, baby!