sexta-feira, 27 de março de 2009

Carta para um amigo [ II ] - Nem tudo é verdade.

Photo: Praia da Caiana (By Nobre Epígono)

Praia da Caiana, 17 de março de 2009

Ao meu eterno e grande amigo Leonardo.

Já são 18h30, Leo. Estou em casa. Foi muito bom lá na beira da praia. Consegui pintar um desenho que fiz. Imaginei uma caravela na minha frente. Tinha muita gente, inclusive, um casal bem trajado. Ela segurava seu vestido verde e sorria como nunca. Parecia que estava, em fim, no paraíso. Ele sorria também e pusera as mãos na cintura. Botes esperavam-nos ao redor da caravela. O sol brilhava. As ondas cantavam. As ondas... Ah, as ondas!

Pus o desenho aqui em cima da mesa. O gato, José Rabento, olha-o como se entendesse de arte. Arte é para poucos. [não querendo me desfazer da inteligência dos felinos] José me faz lembrar de Juliana. Sabes de quem estou a falar, não é mesmo? José participa das minhas horas de “vôo”. Ele vem e deita como um largado em cima da minha barriga. Confesso que as risadas surgem sem parar. Juliana uma vez deitou-se em meus braços e fez o mesmo que Rabento, lembra? Eu te contei?

Acabei de comer um pão com queijo e tomei um copo com leite. O meu avô está ali sentado na sua cadeira de balanço à espera de Dona Maria, por certo. Ele esquece do mundo, assim como o neto também esquece do mundo quando lembra dos quatro. Ele me questionou sobre o desenho. E claro, eu fantasiei as palavras e disse: “É a minha corte, vovô. Chegou para me levar para outro paraíso... Conhecer outras pessoas. Viver outras aventuras”. Não podia ficar sem a resposta dele: “Oh, meu neto! Como és belo nas tuas coisas”.

Acho que o meu avô foi a única pessoa com quem me descontrai mais nesses últimos dias. Ele diz que me ama. Ele conta-me histórias. Ele empresta-me os discos dele. Desde o término “dos quatro”, vovô Sebastião tenta aliviar a minha dor. Tenta me fazer feliz novamente. E eu, chato como sou, pareço não querer abrir os olhos e esquecer do único passado que me deixou tão feliz nesses tempos. Nada como um gole de vinho. Nada como O TEMPO.

Há o mistério de saber se existe outra pessoa que possa estar fazendo vocês três felizes, Leo. Há um ciúme bobo dentro de mim, que faz relembrar mais e mais do rosto e gestos de vocês. Que faz eu olhar para um lençol e sentir os dias em que me cobriram. Olhar para um bicho de pelúcia e sorrir dos apelidos que criamos um para com o outro. É tão triste. É tão bom. É um paradoxo. Sinto-me só neste momento. Apenas ouço de longe o barulho das águas nas falésias.

A primeira resma de papel está acabando. Já escrevi, reescrevi, rasguei, escrevi de novo, colori.

São 23h45. Está tarde. Preciso dormir. Amanhã continuo.

Um abraço forte.
Do seu amigo que tanto o estima,

Nobre Epígono.

5 comentários:

Sentimental ♥ disse...

me entristece saber q o destino separa pessoas, logo aquelas q de um jeito ou de outro se fazem tão necessárias.
bjs

Andreia disse...

Há muita coisa a ser escrita! *

Léo Canário disse...

Éon meu amigo e ainda melhor jornalista que se tem notícia. Você está escrevendo cada vez melhor. Você mostra que ser sensível não é apenas chorar, nem mandar flores e muito menos falar de amor a todo momento. Ser sensível é ser igual a você, pessoa que nota as coisas simples da vida, que usa de um dom comum ao ser humano, a sensibilidade, para falar das pessoas ds idéias, das criações ou seja admitir que temos alma e não somos apenas um corpinho em forma!!!

Anônimo disse...

Quem foi que disse que pra tá junto precisa tá perto?!
Adorei a "Carta II"...
bjus!

A menininha disse...

Adorei a carta!

bjuss