sexta-feira, 13 de abril de 2007

... e viver a vida só de amor (2)

(depois do jantar)
.
- Quando mandei fazer esse janelão - olhando para a janela do quarto - era pra olharmos bem as estrelas e a lua...
- A lua que um dia eu te dei? - olhava pra ele como uma moça de 16 anos.
- Não. A lua que toda noite você dá. Amo muito tudo isso. Sem limites pra sonhar, pra beijar, pra te amar. - ele se ajeitava na cama para abraçar Isaura. Linda, linda Isaura.
- Mesmo com a idade que estamos, sinto um frio na barriga quando você fala essas coisas lindas. O tempo de menina volta...
- O tempo de brotinho volta... Posso te beijar, meu amor?
- Se forem beijos roubados, será bem melhor. Mas já que pede, pode beijar.
E o frio entrava pelo janelão, mechendo as cortinas feitas por Isaura. Estrelas brilhavam sem parecer que eram fantasias da cabeça do autor. E passado cinco minutos, gritos de amor ecoavam no quarto e no corredor ao lado. Realmente estavam voltando aos tempos de recém-casados.
- Oh! Ahhh, pareço um adolescente...
- Humm, você ainda é, meu bobo. Apenas bobo.
- Agora vamos dormir, não é mesmo?
- Sim. Boa noite, meu lindo-jovem-coroa.
- Boa noite, minha coroa boba. Amo-te eternamente.
.
(manhã)
.
- Humm, bom dia!
- Humm, bom dia meu bobo-coroa!
- Teve ótimos sonhos?
- Acho que não, Luis. Sonhei que você me deixava... - fala quase chorando.
- Querida, não há porquê ficar assim.
- Era estranho. Estávamos numa estação de trem. Eu tinha ido ao banheiro enquanto não chegava a hora do trem partir. Quando voltei pro banco onde você estava sentado, não tinha mais nada. Olhei para o horizonte e no céu apareceu uma imagem com um trem caindo de um penhasco. Você morria, virava um anjinho e vinha me proteger dos males existentes no mundo.
- Muito louco! Foi apenas um sonho assustador, viu?
- Huhum. Vamos logo tomar nosso café, senão perdemos o vôo. Estou anciosíssima pra chegar em Guaracinâmbola. Saudades dos nossos amigos... Aqueles que sabem de todos os nossos segredos!
- Será que outras pessoas vão saber a partir de agora? Ou melhor, daqui a algumas horas de vôo? - perguntou Luis.
- Quem dirá é o tal autor. Adorei ter entendido o que nos faz tornar-se real. Isso daria um bom filme.
- Depende do diretor... O autor da nossa história de amor tem um amigo que poderia trabalhar como diretor. Seria ótimo! Enfim, deixemos de supor coisas que serão ainda reveladas no decorrer destas linhas, linhas e mais linhas.
.
[09:15] decolando, decolando e viajando.
.
- Hahaha, olha só as casinhas lá em baixo, querido!
- Minha coroa-boba, você se surpreende muito com as coisas. (risos)
- Nossa, só acho bonito quando vejo essa imagem daqui de cima.
- Imagine deus! Todos os dias vê isso. Agora fazemos parte desse olhar nas alturas! Voando, voando... Iuuuupiiiii... Agora! Vamos querida! Pense junto comigo! Está sentindo o ar, a aproximação do que se diz "paraíso"?
- Siiiimmm, meu eterno amor! Como é mágico! Como é maravilhoso poder dar cambalhotas assim no ar.
- Atenção, atenção! Mantenham seus pés no lugar! - falou uma voz feminina.
- Mas quem ela pensa que é? - perguntou Isaura aos outros passageiros. Isaura os achava estranhos. Uns ensanguentados, outros pelados, sujos, tão magros quanto um palito de dente. Acontece que aquele vôo era diferente do das outras companhias aéreas.
- Senhora, não pode, numa viagem de luxo desse tipo, ficar dando cambalhotas. Terá um tempinho para isso quando pisar em solo verde.
- Desculpe-me moça, eu não sabia dessas regras. A agência onde compramos as passagens, não nos informou sobre isso. Quanta ordem!
- Querida, não adianta reclamar. É capaz de o GRANDE HOMEM puxar nossas orelhas. Muita calma nessa hora.
- Pois bem, já estou calma.
- Ei, ei. O que me diz da sua vida? - perguntou um homem na poltrona ao lado, para o Luis.
- Minha vida foi a melhor de todos os outros seres. O que plantei acabou gerando bons frutos. Agora estou aqui viajando com minha esposa - ele diminuiu o tom de voz - , cá pra nós, ela ainda não sabe onde estamos. (risos)
- Por que a risada, meu berilo? - perguntou Isaura.
- Não, nada. Estou aqui conversando com o... ?
- Oh, não me apresentei. Emanuel. Se quiser pode me chamar de Jesus. (risos)
- Hahaha... Parece mesmo com Jesus, senhor - disse Isaura.
- Concordo - Luis piscou para Emanuel.
- Acho melhor você contar pra sua esposa onde, de fato, estamos - disse Emanuel bem baixinho.
- Humm... Ela vai sentir.
.
[no solo verde, mais do que verde]
.
- Luis? Meu amor, onde você está? Luiiiiis? Bobo-coroa, nos afastamos sem querer, não é mesmo? - Isaura começava a chorar.
- É meu filho Luis, sua esposa passará por uma fase difícil. Precisamos dar forças em seu coração - falou Emanuel.
- Um vazio está tomando conta do meu coração, Jesus - disse Luis.
- Com certeza. É difícil se separar dessa forma. Do jeito como me separei de minha mãe foi mais terrível. Você acompanhou todos os filmes que fizeram ao meu respeito. Aqueles pregos, a coroa de espinhos, as chicoteadas, o longo caminho em que carreguei aquela cruz... Olhe para você. Estas cicatrizes em seu corpo vão estar sempre na memória dela, dos seus filhos e todos os amigos. Mas perceba o tamanho homem que fostes com tua família. Consegue enxergar aquele lago ali na frente? Muitos casais já se reencontraram lá, tomaram banhos juntos.
- É senhor Jesus.
- Não me chame de senhor. (risos) Sou tão novo quanto você! Morri com exatos 33 anos, e você com 40 e ?
- Hahaha, Jesus! Você é muito diferente do que todos criaram lá em baixo. Quando estava filosofando sobre sua existência na terra, jurava como um mais um é dois, que você era sério, meio grosso.
- Sou um palhaço, meu filho! (risos) Não gosto dessa seriedade, e rosto de chorão que alguns montaram sobre mim. A alegria não pode se tornar triste nunca! Nem mesmo com a Isaura.
- Compreendo, Jesus. Posso ir ver o meu velório?
- Só se você deixar eu ir junto! (risos)
- Lógico, Emanuel! Você é o dono de tudo! (risos)
- Não sou o dono de tudo, meu filho. Falo, falei o que seria bom para as pessoas, antes que viesse acontecer o que vemos hoje em dia no mundo. Pense junto comigo: se fizermos coisas boas, o mundo não poderá ser melhor? Lógico, não é, meu filho?
- Nossa! Nunca imaginei você falando essas coisas - disse Luis.
- Pois bem. Vou falar com Noé para ele emprestar dois cavalos, ok?
- Ok. (risos)
- Pronto. Vamos?
- Vamos!
.
[no solo, entre túmulos de mármore]
.
- Minha mãe...
- Não, Kardec. Não pode ser verdade que o amor da minha vida partiu - Isaura soluçava e derramava lágrimas.
- Ele está em um lugar bem melhor que este, mainha - disse Clara.
- Ele nunca vai nos deixar, mãe. Estará sempre ao nosso redor nos protegendo - disse o mais velho.
- Jesus, queria que ela me visse... - Luis falava triste.
- Ela não te vê. Não pode. Pode sentir sua presença. Tente falar com o coração dela, meu filho.
- Minha boba coroa, estarei sempre com vocês. Sempre a amei e vou te amar por toda a minha vida. Quero dizer uma coisa: aquela nossa viagem foi linda, mas é uma pena você ter me perdido. Não aguentei o acidente. Você sim. Jesus é bem diferente do que todos pensam. Acho que dessa vez encontrei um verdadeiro amigo homem. Não veja isso como algo de fiéis da bíblia sagrada. Foi tudo muito louco. Uma viagem bastante cansativa. Um dia terei você aqui, bem do meu lado. Minha nova casa te espera. Precisa ser forte, e ter paciência. Emanuel está mandando um beijo e um abraço. Amo-te além de tudo, minha boba-coroa.
- Ohhhhh... Meu Luis! Vamos nos encontrar sim, querido. Cuidarei dos nossos filhos e netinhos - disse Isaura nos braços do Kardec.
- Mãe, mãe... Calma. Papai está aqui ainda. Em nossos corações - disse Kardec.
- Quero, quero cantar um trechinho de uma música pro meu berilo... - Isaura falava e chorava, enquanto o caixão descia o túmulo - É tão difícil olhar o mundo e vê/O que ainda existe/Pois sem você/Meu mundo é diferente/Minha alegria é triste...
- Jesus, não tem como eu voltar? - Luis perguntou.
- Não, meu amigo. O que você tinha de fazer, já fez. Agora viva outra vida... Respire outros ares.
- E minha história acaba aqui?
- Sim. E a da sua família continua...
.
.
[ o finalzinho da história ficou meio sem graça... Pode ser que eu modifique depois... ]

Um comentário:

Anônimo disse...

sério! q bom gosto ;)
parabens!