quarta-feira, 22 de maio de 2013

O dia de Werner


imagem modificada / Google

Agarrou-se a uma simples xícara de café e mastigou o pão com requeijão. Todos os dias eram assim, como um ritual, como um modelo herdado dos pais e dos avós. Werner olhava para o café da manhã, amarrava os cadarços amarelo mostarda do tênis marrom, olhava os noticiários na TV, no Tablet e ainda conferia a mensagem de bom dia no smarthphone.

O perfume passava da metade. Ele, que tinha todo o salário contado e calculado na folha três do mês vigente da agenda, pensava como iria conseguir R$ 40,00 para comprar um novo frasco do perfume. Afinal, queria estar bem quisto aos olhares do outro. Não tinha ajuda dos pais, pois esses moravam longe, no sul do país, em Rio Grande.

Nos dias de hoje possuía alguns amigos, mas era vergonhoso pedir uma grana emprestada ou dar indiretas para ser presenteado com um perfume. O negócio dele era esse perfume! A cada dia: o perfume. Ele não tinha uma paixão: exceto o perfume.

Ele tinha medo. O medo de envolver-se com outra pessoa levava-o a ser cínico, irônico e racional. Poderia até, talvez, ligar para o Roger, que trabalhava junto com ele na agência. Pensava em dizer que o colega tinha um estilo de se vestir bonito. Pensava em elogiar a última foto postada na rede social, exibindo a enorme tattoo que tinha no peito. Ah, percorria por diversos sentidos.

Todo dia, de segunda a sexta, permanecia por 8 minutos no ponto de ônibus próximo à sua casa, com os fones de ouvido – ouvindo um setlist pré-ordenado -, até porque não tinha a mísera paciência de estagnar nas mesmas estações do Rádio. Tinha um certo preconceito, mesmo possuindo conhecimento em tanta coisa!

Era superior juntamente com o seu cinismo. Era arrogante muitas vezes. Afastava-se de alguns, alguns afastavam-se dele. Um dilema.

A camisa social que usava não possuía uma dobra se quer. O livro à mão, esperava ser folheado assim que estivesse dentro do ônibus para a pequena viagem ao trabalho. Dentro da maleta case, ele carregava o lanche para o dia, um jornal impresso, o tablet, uma revista sobre história, o carregador do smarthphone, a escova de dente e o creme dental.

Quando entrava no ônibus todos olhavam-o dos pés à cabeça. Viam-o como um homem bonito, discreto, sério. Não estava atrasado para o trabalho, porém, não via a hora de chegar e olhar para o Roger novamente. Era uma sincronia de olhares. Era o tique taque do coração acelerado. Era o elevador do prédio demorando. Era todo mundo do décimo quinto andar dando bom dia com aqueles sorrisos amarelos ou com hálito de creme dental. Sem paciência, sem tolerância...

E com esta frase, o chefe olha-o e exclama:

- Bom dia, Werner! Você está demitido!

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