- Aqui, homem! Pegue-me! Leve-me para o seu colo!
- Não é tão simples assim, meu caro. Estou em dúvida entre você e os outros...
Outra voz gritou:
- Olha lá, hein! Eu tenho tantas fotografias pra te mostrar, leitor! Há tempos que estou preso nesta biblioteca esperando por alguém que me dê o máximo de valor!
- Não, não, não! Aqui quem tem vez são os livros de História. – falou o colega da estante.
- Como assim? Não tem isso aqui, seu metido! Presta atenção nisso: “As pessoas fazem a História, mas raramente se dão conta do que estão fazendo”, Cristopher Lee. Pense nisso.
- E daí? Problema delas que não se dão conta. Mas tenho coisas belíssimas que aconteceram em todo o mundo, e ficaria honrado em mostrar isso pro moço, certo?!
- Certo, livro de História!
O homem olhou pra um, olhou pra outro e continuou com a dúvida. Eram tantos livros que lhe chamavam a atenção. Eram tantos que estavam desesperados para serem tocados... Eis que ele falou:
- Estou precisando refletir com um de vocês. Não quero que fiquem ai discutindo, brigando, implorando para eu pegar um. Já disse, não é fácil assim. Alguém tem poesias pra mostrar-me?
Um livro de Augusto dos Anjos gritou:
- Senhor, senhor! Poderia eu citar um poema que faz parte deste meu corpo já tão velho e esquecido nesta estante?
- Sim, claro!
E o livro declamou:
“A fome e o amor
- Não é tão simples assim, meu caro. Estou em dúvida entre você e os outros...
Outra voz gritou:
- Olha lá, hein! Eu tenho tantas fotografias pra te mostrar, leitor! Há tempos que estou preso nesta biblioteca esperando por alguém que me dê o máximo de valor!
- Não, não, não! Aqui quem tem vez são os livros de História. – falou o colega da estante.
- Como assim? Não tem isso aqui, seu metido! Presta atenção nisso: “As pessoas fazem a História, mas raramente se dão conta do que estão fazendo”, Cristopher Lee. Pense nisso.
- E daí? Problema delas que não se dão conta. Mas tenho coisas belíssimas que aconteceram em todo o mundo, e ficaria honrado em mostrar isso pro moço, certo?!
- Certo, livro de História!
O homem olhou pra um, olhou pra outro e continuou com a dúvida. Eram tantos livros que lhe chamavam a atenção. Eram tantos que estavam desesperados para serem tocados... Eis que ele falou:
- Estou precisando refletir com um de vocês. Não quero que fiquem ai discutindo, brigando, implorando para eu pegar um. Já disse, não é fácil assim. Alguém tem poesias pra mostrar-me?
Um livro de Augusto dos Anjos gritou:
- Senhor, senhor! Poderia eu citar um poema que faz parte deste meu corpo já tão velho e esquecido nesta estante?
- Sim, claro!
E o livro declamou:
“A fome e o amor
A um monstro
Fome! E, na ânsia voraz que, ávida, aumenta,
Receando outras mandíbulas a esbangem,
Os dentes antropófagos que rangem,
Antes da refeição sanguinolenta!
Receando outras mandíbulas a esbangem,
Os dentes antropófagos que rangem,
Antes da refeição sanguinolenta!
Amor! E a satiríasis sedenta,
Rugindo, enquanto as almas se confrangem,
Todas as danações sexuais que abrangem
A apolínica besta famulenta!
Rugindo, enquanto as almas se confrangem,
Todas as danações sexuais que abrangem
A apolínica besta famulenta!
Ambos assim, tragando a ambiência vasta,
No desembestamento que os arrasta,
Superexcitadíssimos, os dois
No desembestamento que os arrasta,
Superexcitadíssimos, os dois
Representam, no ardor dos seus assomos
A alegoria do que outrora fomos
E a imagem bronca do que inda hoje sois!”
O leitor ficou surpreso ao ouvir tudo aquilo. Tão sagaz, tão feroz! Era isso que ele procurava. Seria o livro escolhido entre tantos outros que também são recheados de cultura, exemplos, histórias fantásticas!- Ora, ora... Vamos comigo?! Quero lê-lo. – E olhando para os outros que puxavam sua camisa, disse: - Nem tudo está acabado. Aguardem, e voltarei para matar a minha e a sede de vocês! Boa noite...
O moço saiu da sala, deixou a porta entre aberta, e a guerra continuou lá dentro. Mas enfim a calmaria chegou. Aquietaram-se. E sabiam que mais cedo ou mais tarde teriam o mesmo prazer do livro que foi pego pelo leitor.
Livros! Oh, livros... “livros livres... porque cultura não é mercadoria”.
A alegoria do que outrora fomos
E a imagem bronca do que inda hoje sois!”
O leitor ficou surpreso ao ouvir tudo aquilo. Tão sagaz, tão feroz! Era isso que ele procurava. Seria o livro escolhido entre tantos outros que também são recheados de cultura, exemplos, histórias fantásticas!- Ora, ora... Vamos comigo?! Quero lê-lo. – E olhando para os outros que puxavam sua camisa, disse: - Nem tudo está acabado. Aguardem, e voltarei para matar a minha e a sede de vocês! Boa noite...
O moço saiu da sala, deixou a porta entre aberta, e a guerra continuou lá dentro. Mas enfim a calmaria chegou. Aquietaram-se. E sabiam que mais cedo ou mais tarde teriam o mesmo prazer do livro que foi pego pelo leitor.
Livros! Oh, livros... “livros livres... porque cultura não é mercadoria”.
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Ganhei da Verônica Martinelli , este selo:
Obrigado, Verônica!
11 comentários:
Não creio que um livro de Augusto critaria, ele se esconderia da sujeira das mãos.
Sério,parece que é exatamente isso que acontece quando entramos em uma livraria...todos os livros brigando pela nossa atenção e pedindo para que os levemos conosco.
Belo texto!
;)
Beeeijo,grandão.
Só alguém com uma mentalidade tão enobrecida poderia falar algo tão...
...NOBRE!
Amei a forma afetuosa como aborda os livros e o valor que eles têm. A internet e a cultura inútil tem afastado as pessoas deles. Abraços!
Blog interessante...
Tem algo misterioso xD
"Uma casa sem livros é como um corpo sem alma".
E sempre há mais vontade de pegá-los e lê-los.
Muito legal o texto, é bem criativo e gostoso de ler. Prende atenção e ainda tem Augusto do Anjos no meio.
Parabéns. Bye
cara, muito bom. Se fosse eu no lugar do personagem, teria surtado, hehehe.
Muito legal sua contextualização com os autores e gostei muito da frase final.
=)
abraços
Hahahaa...
Adorei esse texto.
É verdadeeee...
Isso sempre acontece comigo. Fico sem saber o que ler. Mas o pior são as situações extras, como na UFRN.
Pois olha, meu caro, é muito difícil opiniar por um livro quando todos eles estão recheados de ácaros e coisas do tipo. Sinto uma satisfação enorme quando percebo que, mesmo naquele estado, eles têm muito pra me ensinar. Então, deixo as "frescuras" de lado e acabo enfrentando um!
Abração!
É por isso que, geralmente, aceito sugestão de meus amigos leitores ao invés de brigar comigo mesmo pra decidir que livros levar....
Há quanto tempo hein!?
É fazia tempo que eu não postava.
Tanta coisa acontecendo...
Mas enfim, época de transição, acho que nos próximos dias as coisas começarão a entrar nos eixos!
Abraço
Ainda bem que sempre haverá um leitor para um livro desesperado - menos, talvez, para um livro de história que por anos entulha o CAHIS lá da unb, coitado...
Os livros da minha casa fazem isso sempre que eu passo por eles ;}
Sempre melhorando ...
:********
/Isa
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