imagem modificada / Google
Agarrou-se a uma simples
xícara de café e mastigou o pão com requeijão. Todos os dias eram assim, como
um ritual, como um modelo herdado dos pais e dos avós. Werner olhava para o
café da manhã, amarrava os cadarços amarelo mostarda do tênis marrom, olhava os
noticiários na TV, no Tablet e ainda conferia a mensagem de bom dia no
smarthphone.
O perfume passava da
metade. Ele, que tinha todo o salário contado e calculado na folha três do mês
vigente da agenda, pensava como iria conseguir R$ 40,00 para comprar um novo
frasco do perfume. Afinal, queria estar bem quisto aos olhares do outro. Não
tinha ajuda dos pais, pois esses moravam longe, no sul do país, em Rio Grande.
Nos dias de hoje possuía
alguns amigos, mas era vergonhoso pedir uma grana emprestada ou dar indiretas
para ser presenteado com um perfume. O negócio dele era esse perfume! A cada
dia: o perfume. Ele não tinha uma paixão: exceto o perfume.
Ele tinha medo. O medo de
envolver-se com outra pessoa levava-o a ser cínico, irônico e racional. Poderia
até, talvez, ligar para o Roger, que trabalhava junto com ele na agência.
Pensava em dizer que o colega tinha um estilo de se vestir bonito. Pensava em
elogiar a última foto postada na rede social, exibindo a enorme tattoo que
tinha no peito. Ah, percorria por diversos sentidos.
Todo dia, de segunda a
sexta, permanecia por 8 minutos no ponto de ônibus próximo à sua casa, com os
fones de ouvido – ouvindo um setlist pré-ordenado -, até porque não tinha a
mísera paciência de estagnar nas mesmas estações do Rádio. Tinha um certo
preconceito, mesmo possuindo conhecimento em tanta coisa!
Era superior juntamente com o seu cinismo. Era arrogante muitas vezes. Afastava-se de alguns, alguns afastavam-se dele. Um dilema.
Era superior juntamente com o seu cinismo. Era arrogante muitas vezes. Afastava-se de alguns, alguns afastavam-se dele. Um dilema.
A camisa social que usava não
possuía uma dobra se quer. O livro à mão, esperava ser folheado assim que
estivesse dentro do ônibus para a pequena viagem ao trabalho. Dentro da maleta
case, ele carregava o lanche para o dia, um jornal impresso, o tablet, uma
revista sobre história, o carregador do smarthphone, a escova de dente e o
creme dental.
Quando entrava no ônibus
todos olhavam-o dos pés à cabeça. Viam-o como um homem bonito, discreto,
sério. Não estava atrasado para o trabalho, porém, não via a hora de chegar e
olhar para o Roger novamente. Era uma sincronia de olhares. Era o tique taque
do coração acelerado. Era o elevador do prédio demorando. Era todo mundo do
décimo quinto andar dando bom dia com aqueles sorrisos amarelos ou com hálito
de creme dental. Sem paciência, sem tolerância...
E com esta frase, o chefe olha-o e exclama:
- Bom dia, Werner! Você está demitido!